Selvagens

A colheita de cogumelos não pode ser encarada como uma tarefa rotineira. Colher cogumelos é uma arte, uma habilidade, uma meditação e um processo. Se se proceder de forma cuidada, se escolher locais deliberadamente com base nas suas condições, aproveita-se melhor e tem-se mais sucesso do que se se andar freneticamente de um lado para o outro a colher tudo o que aparece. Normalmente quando isso acontece, os exemplares têm tendência a não serem identificados nem apreciados e a colheita tem um destino cruel, o lixo.

Ao fazer um passeio de recolha de cogumelos para consumo observe o local onde colhe os cogumelos, observe o cogumelo em si, não colha todas as espécies que pensa serem comestíveis, colha apenas as que tem a certeza e dessas sim, colha diferentes exemplares pois a mesma espécie pode apresentar grandes variações. Deixe sempre os exemplares mais jovens e os mais adultos, não se esqueça que a sustentabilidade é a palavra de ordem.

Um coletor experiente sabe a época em que os cogumelos de determinada espécie surgem e os habitats preferenciais dos cogumelos. Jamais colocará a hipótese de encontrar um míscaro-branco (Tricholoma portentosum) num eucaliptal, em março. Porém, há situações em que é importante observar bem o habitat e as condições climatéricas que ocorreram nas últimas semanas, porque o imprevisto acontece. Em caso de dúvida os cogumelos não deverão ser consumidos.

A identificação de cogumelos faz-se através de uma avaliação macroscópica e organoléptica do cogumelo, bem como do seu habitat e substrato. A forma, a cor, o cheiro e o sabor do cogumelo são características fundamentais para a sua identificação. Veja o nosso guia de identificação de cogumelos selvagens e participe no seu desenvolvimento.

Cesto com diversas espécies de cogumelos (Lactarius deliciosus, Tricholoma equestre, Clitocybe odora e Lepista nuda)
Cesto com diversas espécies de cogumelos (Boletus edulis e Cantharellus cibarius)
Cesto de Morchella spp.
Tritão (Triturus marmoratus)) a usar Boletus spp. como casa
Gymnopilus junonius
Gymnopilus junonius - um cogumelo ligeiramente tóxico. As toxinas que possui provocam sensações semelhantes a pequenas alucinações

Código de boas práticas de um coletor de cogumelos

  1. Colher apenas os cogumelos que tenham atingido a maturidade e apresentem o chapéu já aberto, de forma a garantir um período para a dispersão dos esporos.
  2. Não colher exemplares muito maduros ou deteriorados (muitas espécies são atacadas por larvas de insetos ou por outros fungos, tornando-se perigoso o seu consumo).
  3. Não utilizar materiais estanques como sacos ou contentores de plástico para o transporte dos cogumelos devendo utilizar-se cestos de vime, palha, cana ou outro recipiente similar que pela sua estrutura permita a dispersão dos esporos e o arejamento do material transportado.
  4. Não destruir nem colher cogumelos impróprios para consumo humano (as espécies venenosas ou não comestíveis desempenham um papel fundamental na natureza).
  5. Não causar estragos na vegetação durante a colheita.
  6. Os cogumelos para consumo devem ser cuidadosamente colhidos, devolvendo-o ao local inicial caso não seja a espécie pretendida.
  7. Não colher todos os cogumelos de determinada espécie presentes em cada local (deixar cogumelos no terreno garante a dispersão dos esporos e promove o aumento do número de indivíduos da espécie).
  8. Não colher cogumelos para consumo que suscitem dúvidas na sua identificação (existe um grande número de espécies similares de difícil identificação, muitas delas tóxicas para consumo humano e algumas mortais).
  9. Não colher quantidades superiores às que se pretende consumir.
  10. Não colher cogumelos na imediação de estradas, perímetros industriais ou terrenos de agricultura intensiva (os cogumelos têm a capacidade de acumular nos seus tecidos metais pesados e outros produtos tóxicos, cogumelos comestíveis poderão tornar-se tóxicos devido à absorção de produtos tóxicos).
  11. Cumpra a legislação (Código Civil e Código Florestal).